domingo, 22 de fevereiro de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Anne cada vez mais enturmada com a gente de Murray; Lewis se indispõe com todos

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/02/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_22.html antes de ler esta postagem:

Anne parece ter convencido Lewis a retornar ao convívio dos festivos amigos de Murray...
Acomodaram-se um ao lado do outro... Mas aconteceu que ele preferiu entreter-se com a bebida enquanto Anne participou animadamente da conversa...
Falavam sobre literatura e as motivações (ou desmotivações) dos escritores em seu ofício... Isso era algo do qual ele poderia participar, pois lhe dizia respeito... Mas sempre que lhe dirigiam alguma pergunta, respondia com “grunhidos” sem sentido.
De sua parte, Anne falava de bom grado... Disse que, pelo menos na França, muitos escritores questionavam se havia algum sentido em permanecer escrevendo... É claro que ela se referia às inquietações de Robert e Henri.
Enquanto as palavras de Anne provocavam discussões acaloradas, Lewis mantinha-se apartado... Ela sabia que ele não gostava de teorizações... De repente Lewis falou bruscamente que, se as pessoas questionarem demais por que e para quem se escreve, simplesmente não se produzirá texto nenhum... E depois perguntou a respeito de quem se interessaria por perguntas como aquelas que o grupo estava discutindo... Ele mesmo respondeu que apenas os “escritores que ninguém lê” pretendiam as divagações.
Sua atitude foi provocativa e gerou certo mal estar porque vários dos presentes eram “escritores que ninguém lê”... O simpático Murray conseguiu minimizar a opinião... Logo Lewis se aquietou junto ao seu copo, e depois de uns quinze minutos retornaram para a casa do anfitrião.
(...)
O dia seguinte foi de muita chateação para Anne... Lewis mostrava-se de mau humor e foi a contragosto que suportou o menino Dick, ensinando-lhe alguns golpes de boxe e levando-o para nadar.
Murray não se importava, pois conhecia bem o amigo... Mas e quanto a Ellen? Anne sentia por ela... Ao mesmo tempo tinha esperança de que o seu amado logo superaria a indisposição provocada pela bebedeira da noite anterior.
(...)
Mas aconteceu que a expectativa de Anne não se confirmou...
Ela estava cada vez mais familiarizada com Murray e a esposa, mas Lewis não quis saber de conversa... Ninguém ousava interrompê-lo durante o longo período em que passou lendo jornais.
As horas se passaram, novo dia começou e Lewis permaneceu “bronqueado”... Parecia que fugia de algo, pois evitava falar com as pessoas... Ellen foi surpreendida ao vê-lo assumir todo o serviço de limpeza da casa, “desde o porão ao sótão”.
(...)
Aos poucos Lewis retomou o convívio, e durante o almoço procurou ser um pouco mais gentil...
À tarde aceitou ir à praia e revelou que estava muito irritado com o garoto... Era capaz de torcer-lhe o pescoço se viesse incomodá-los. Foi Anne quem observou que ele mesmo era culpado daquela situação porque havia sido solícito demais com Dick logo que chegaram... Lewis não queria saber e se referia ao menino como “fedelho sujo”.
Como que a se explicar, Lewis dizia que era assim mesmo... Num primeiro momento ele sempre “se entregava”... Anne o alertou que era preciso levar em conta que os outros “também existem”.
Não puderam prosseguir com este diálogo (que certamente desembocaria na relação deles) porque o garoto se aproximava... Dick vestia camisa xadrez e trazia à cintura os apetrechos de cowboy... Chegou perguntando por que Lewis havia se instalado ali, pois ele o esperava mais acima... Estava cobrando o cumprimento da promessa que havia lhe feito, de passearem de bicicleta naquela tarde.
Lewis foi dizendo que não estava com vontade... Dick explicou que ele havia lhe prometido no dia anterior... Lewis desconversava como que a dizer que o menino entendera tudo errado.
Aconteceu que o menino deixou-o muito irritado porque o segurou pelo braço e começou a puxá-lo... Foi com violência que Lewis se desvencilhou... Sua fisionomia fez Anne lembrar-se da ocasião em que ele aplicara o chute na escultura perdida na floresta da Guatemala (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/02/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_4.html).
Ela tentou remediar a situação e disse ao garoto que poderia fazer o passeio com ele... Mas o menino insistia que queria a companhia de Lewis... Anne explicou que ele estava cansado e tinha “coisas para pensar”...
Dick forçou a barra e quis saber se Lewis tinha intenção de permanecer por ali... Ele também ficaria e depois podiam treinar boxe e nadar... Sem esconder sua irritação, Lewis negou qualquer interesse.
(...)
Anne conseguiu dissuadir o garoto. Disse que precisava ir ao centro e que, se a acompanhasse, poderia comprar-lhe revistas... Ficaria satisfeita em ouvir suas histórias pelo caminho...
Depois disso, Dick virou as costas para Lewis.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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