domingo, 29 de março de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – Bento “não andou na linha” com a sua Madalena; o tenente negro Arlindo Ribeiro, auxiliar do major Gastão Goulart; contradições e bajulações da “imprensa bandeirante”Bento apareceu no alojamento da Legião Negra... Foi uma surpresa para o Tião.

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/03/a-legiao-negra-luta-dos-afro_27.html antes de ler esta postagem:

Bento apareceu no alojamento da Legião Negra... Foi uma surpresa para o Tião.
As suas palavras revelam um pouco das expectativas que os vários alistados tinham em relação à mobilização em torno do conflito contra Vargas...
Os jornais e radialistas da época incentivavam e elogiavam o engajamento dos negros na nobre causa... Lutar por São Paulo seria o mesmo que defender um Brasil grandioso e, no caso dos negros, fazer valer a sua condição de herdeiros do brio de personalidades dignas como Patrocínio, Rebouças, Gama...
Bento esperava algum alívio (roupas lavadas, comida, botas resistentes...)... Mas Tião deixou claro que os soldos não eram grande coisa... Além disso, os melhores suprimentos eram sempre encaminhados para os brancos... Os alistados na Legião pareciam ser a “bucha de canhão”.
Mas os dois jovens sabiam bem que as lideranças negras não deviam nada aos oficiais da “brava gente bandeirante”... Eles conheciam bem a ética e a correção de homens como Raul Joviano do Amaral e de outros que estiveram no comando da Frente Negra.
(...)
Bento dizia que qualquer coisa seria melhor do que “carregar carga pesada nas costas ou na cabeça; encher ou esvaziar vagões de banana, café cimento, quartos de boi, areia”... Porém Tião sabia que o amigo gostava mesmo era da boa vida... Então, se Bento pretendia moleza era melhor ir “tirando o cavalinho da chuva”... Aliás, enquanto pudesse contar com a devoção da preta Madalena, não teria motivos para se desesperar... Era só “andar na linha”.
(...)
Bento contou para Tião o que havia lhe sucedido... Aconteceu que ele deixou Madalena muito chateada.
Ela trabalhava na casa do doutor Edmond, esposa de dona Risoleta. Sua dedicação e competência rendiam-lhe o apreço dos patrões... Mas eles não podiam saber que ela sempre dava um jeito de separar uma marmita com a boa comida da casa para o seu querido Bento (que não deixava de aparecer junto ao muro da residência, onde recolhia o embrulho)...
Madalena sabia da vida malandra do namorado, mas mesmo correndo o risco de perder o emprego não o abandonava, e ainda sempre dava um jeito de guardar algum dinheirinho para entregar-lhe.
A grande confusão em que Bento se meteu foi se envolver com uma jovem branca de olhos verdes, Judite, tão fogosa quanto suas namoradas negras... O problema é que ele não sabia que Judite era irmã de criação de Madalena, que evidentemente ficou sabendo de sua traição.
Madalena não é de suportar desaforos, e é por isso que decidiu “ir às vias de fato” com Bento... Ele disse que num belo dia, quando chegou para pegar a sua marmitinha, Madalena o recebeu com um facão de cozinha pronta para castrá-lo... E como não desconfiar das intenções da outra, se ela realmente atirou a lâmina em sua direção?
Tião riu a valer... Bento também... Mas aquele primeiro encontro na Legião tinha de terminar porque o toque do clarim chamou a tropa para se posicionar para a revista do comandante...
(...)
O tenente Arlindo Ribeiro deu as orientações para o grupamento...
O velho Tião se recorda desse militar negro... A Força Pública não aceitava negros em seus quadros, então foi através do Corpo de Bombeiros que ele chegou a uma posição de destaque.
(...)
É interessante observar que a Frente Negra havia solicitado a Vargas que possibilitasse a abertura de vagas na Guarda Civil aos “homens de cor”... Porém, como Faustino explica, “o interventor Pedro de Toledo enviou carta secreta para o comandante da Força Pública ordenando que não aceitasse em seus quadros nem pretos nem mendigos”.
É por isso que quando a Legião Negra foi formada não havia militares negros que pudessem comandá-la... O major Gastão Goulart requisitou Arlindo Ribeiro do Corpo de Bombeiros para que se tornasse seu assistente.
Faustino destaca trecho de A Gazeta que cita Ribeiro como uma das vítimas do governo (só pode ser uma referência ao governo Vargas) que São Paulo gloriosamente acudiu, é o ídolo dos negros. Militar disciplinado e disciplinador, impõe-se aos seus comandados...
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas