terça-feira, 28 de abril de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – mais sobre o movimento de Marcus Mosiah Garvey e a fuga do ativista John Washington; Miro e Stela se envolvem romanticamente, mas ele não alimenta nenhuma esperança de que possam viver juntos

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/04/a-legiao-negra-luta-dos-afro_27.html antes de ler esta postagem:

O movimento de Marcus Mosiah Garvey se estendia por uma rede de mais de 40 países... Desde 1918 ele publicava o periódico Negro World e militava contra o preconceito e a discriminação dos negros... Também ele era jamaicano e entendia que os negros deviam integrar nações que lhes eram próprias, sendo assim, a África seria o destino de todos os que estavam, por causa da diáspora, afastados dela... Não era por acaso que o lema da Associação Universal para o Progresso Negro era “Um Deus! Uma aspiração! Um Destino”.
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É claro que Miro jamais ouvira falar do movimento de Garvey, tampouco podia entender como é que algum negro pudesse se interessar em transferir-se da América para a África... Ficou espantado ao saber que pelo menos três viagens haviam sido promovidas pelo movimento, e que centenas de afrodescendentes decidiram (literalmente) embarcar no projeto.
Para ele, era espantoso que nos Estados Unidos existisse um movimento com aquelas características... Miro se recordou da ocasião em que o mascate Salim quis apresentar-lhe o jornal da Frente Negra... Apesar de ter se recusado a folheá-lo, tinha certeza de que a entidade brasileira não podia ser comparada ao movimento de Garvey.
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As coisas tinham mudado muito... A amarga experiência vivida por Miro em Marilândia Paulista fizera com que ele passasse a rejeitar a ideia de que o nosso país fosse um paraíso onde a “democracia racial” garantia convivência pacífica entre negros e brancos. Era certo que ele estava arrependido por ter vivido alienado até então.
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De certo modo a história de fuga de John Washington se parecia um pouco com a sua... Washington explicou que um dos marinheiros que estava no bar de Stela havia lhe “alugado” o uniforme, e foi assim que ele conseguiu se disfarçar e se intrometer em meio aos demais depois de permanecer por algum tempo escondido no porto de Boston enquanto os ativistas eram caçados pela polícia...
Miro achou graça quando o rapaz disse que depois de disfarçado não teve maiores problemas para deixar o país, já que para os oficiais brancos “os negros são todos parecidos”.
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Na sequência dos acontecimentos vemos que a conversa interessantíssima entre Miro e Washington foi interrompida porque os colegas do gringo exigiam que ele levasse mais cervejas para a mesa...
Miro até foi convidado para se juntar aos bebedores, mas ele preferiu permanecer junto ao balcão bem perto da bela Stela... Se ele perguntasse a ela sobre essa sua opção, ouviria que era isso mesmo o que devia fazer.
Mais algum tempo se passou... Os marinheiros se embebedaram e se retiraram depois das oito da noite... Miro sugeriu que Stela fechasse o estabelecimento, até porque não havia mais fregueses. Ela concordou, e também topou a proposta de subirem até os cômodos de cima para tomarem chá...
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Mal cerraram a porta do boteco e se agarraram freneticamente... Nem é preciso dizer como isso terminou. O casal subiu pela escada e se envolveu ardentemente... Era a primeira vez que Miro se entregava com paixão a uma mulher... Não havia como comparar as sensações que experimentou com Stela à relação tumultuada que teve com Marcela em Marilândia.
Passado o frenesi, Stela perguntou se Miro topava ficar com ela “para sempre”... Isso foi como que um “balde de água fria”... Em vez de respostas, Miro só reflexões se passaram por sua mente...
É claro que Stela era uma mulher maravilhosa, e ele estava muito satisfeito por se identificar com ela, uma negra como ele... Mas estava muito amargurado com a experiência do casamento frustrado, e calculava que no final das contas apenas faria a bela Stela sofrer...
Miro nada disse... Beijou-a, retirou-se para um banho e depois começou a se vestir... Na verdade ele também tinha medo de se apaixonar...
Ele se retirou sem encará-la de frente... Nem notou que lágrimas molhavam a face da jovem amante.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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