sábado, 30 de maio de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – no New Bar a discussão girou em torno das atitudes que deviam ser tomadas em relação ao avanço dos comunistas e o modo como seus partidários se submetiam ao proselitismo; novamente a questão das denúncias dos campos soviéticos; Julien surpreende com sua afirmação de “solução extrema” no caso de uma tirania vermelha em seu país; o tempo passou, Lambert continuou bebendo e se irritando com a conversa

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_49.html antes de ler esta postagem:

Para Scriassine, aquela conversa a respeito de literatura não devia se sobrepor ao fato de todos perceberem o modo como as pessoas se colocavam em situações abjetas (esse era o caso de Lenoir) sem se importar com o que poderia ocorrer no caso de os comunistas tomarem o poder na França.
Julien achava que as falações de Scriassine revelavam um tipo muito rigoroso, que só consegue enxergar o mundo a partir das lentes da seriedade e, por isso mesmo, envolvido numa “aura de amargura”.
Scriassine advertiu que, se não fossem homens como ele, os stalinistas estariam no poder e jovens como Julien não teriam sossego... O rapaz foi categórico ao garantir que não teria dúvida de que se suicidaria.
Henri se espantou com a colocação de Julien, que o aconselhou a proceder da mesma maneira. É claro que essa resposta surpreendeu mais ainda... Henri foi perguntado sobre o que faria na hipótese de uma ditadura gaullista, e respondeu que, apesar de não ter a menor simpatia em relação aos militares, certamente não daria cabo à própria vida...
Scriassine se intrometeu ao dizer que não podiam comparar o gaullismo a uma ditadura vermelha... Argumentou também que não tinha culpa se as forças anticomunistas tinham se agrupado em torno de um militar... Além do mais, garantiu que havia pretendido organizar as forças de esquerda contra os comunistas, mas o próprio Henri havia se oposto à ideia.
Henri disparou algumas incoerências e divergências entre ambos... Lembrou que Scriassine falava de uma esquerda, a respeito do povo americano e seus sindicatos, mas não havia como esconder que o tipo defendia Marshall (e o projeto para garantir a influência dos Estados Unidos na Europa e demais continentes) em seus textos.
A discussão passou por essa temática... Scriassine não tinha dúvida de que seria necessário fazer a opção por uma das duas grandes forças do pós-guerra, e ele se posicionava abertamente em favor da América... Lembrou que lá não havia campos de concentração.
Henri se irritou quando o tema veio à tona... Manifestou que estava arrependido por ter se envolvido com as denúncias dos campos soviéticos. Lambert, que estava se embriagando enquanto a conversa se desenvolvia, disse que a atitude mais nobre de Henri havia sido a publicação sobre as atrocidades que os soviéticos cometiam...
Mas para que serviu toda aquela agitação? Henri queria que entendessem que usaram as denúncias como propaganda contra o socialismo... Era provável que, se os campos não existissem, seriam inventados pelos defensores do capitalismo.
Scriassine quis arrematar dizendo que os campos, de fato, existiam... Isso incomodava e, de certa forma, justificava as inúmeras dissidências... Henri fez o raciocínio inverso e falou que lamentava o fato de haver quem não se incomodasse com os ataques à URSS.
(...)
A conversa foi interrompida quando Lambert se levantou afirmando que ainda tinha um encontro àquela noite... Henri aproveitou a deixa e explicou que também precisava se retirar... Julien o criticou, pois julgava que a noite estava propícia ao festejo.
Enquanto saíam, Lambert confessou a Henri que não tinha encontro nenhum... Simplesmente não estava suportando o modo como a política não deixava de pautar as discussões na mesa. Henri quis dizer que a conversa de Scriassine tinha a ver com “despolítica”, e acrescentou que tinha sugerido irem ao cinema em vez de seguirem ao “Festival de Lenoir”.
Lambert mostrou-se muito insatisfeito... Cinema e política pareciam não lhe interessar... Não haveria alternativa? Então perguntou se Henri topava tomar mais um trago.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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