domingo, 31 de maio de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Lambert desabafa suas mágoas com Henri enquanto se enche de uísque; sua noite deve prosseguir; o ensaio de Dubreuilh foi encaminhado anonimamente a Henri; sentidas mudanças

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-no.html antes de ler esta postagem:

Posicionaram-se num terraço... Muitas pessoas se movimentavam e conversavam alegremente... Certamente havia muitas alternativas sobre a Terra... Aquelas pessoas eram prova disso.
Henri estranhou ao notar que Lambert pediu dois uísques duplos... Perguntou se ele se tornara alcoólatra como Julien, Scriassine... O rapaz completou que Volange não bebe e que Vincent é bebedor.
Ao perceber que Lambert “politizou” a questão, Henri explicou que sua preocupação era outra... O rapaz tentou argumentar que também Nadine não queria que ele bebesse... E acrescentou que nem ela nem Henri sentiam firmeza em sua postura.
Henri disse que sempre tivera confiança nele. Mas depois de ingerir mais da metade do que havia em seu copo, Lambert desabafou que entre os que conviviam com Henri todos tinham de ser “monstros” no que faziam... Esse não era o seu caso (não se sentia bom escritor como Vincent; não era um tipo de ação como os demais rapazes; era, sim, um tipo ”de família” que nem mesmo sabia se embriagar).
Henri quis dizer que Lambert estava equivocado, pois não exigia nada dele... O moço concluiu que isso acontecia exatamente porque era digno de desprezo e que certamente Henri devia pensar que ele não passava de um burguês mal resolvido.
Henri parecia querer colocar um fim às lamentações do outro... Disse que ele mesmo era um burguês... Mas Lambert respondeu que não era a mesma coisa, pois Henri era visto como um tipo superior, verdadeiro, autossuficiente, leal, desinteressado... Um tipo de elevada moral.
Henri disse que não era bem assim, esse não era o seu caso. Lambert não aceitou e disse que ele devia saber que se tratava de uma “figura impecável”... E acrescentou que não tinha importância, pois admitia a sua condição medíocre, e isso lhe bastava.
(...)
Henri refletiu sobre a miséria de Lambert (sua infância não foi das mais fáceis; Rosa morreu quando ele tinha vinte anos; havia a questão do colaboracionismo do próprio pai denunciando a garota judia aos nazistas; Nadine não o consolou; o pai foi assassinado após ter sido julgado...)... De certa forma era possível entender por que Lambert passara para o lado de Volange... Henri só lhe fizera exigências... Seria tarde demais para reparar aquela situação? Ele propôs que o rapaz se manifestasse a respeito das queixas que tinha contra ele.
Lambert disse que não havia queixas... Entedia perfeitamente que Henri não tinha motivos para lhe dar razão. Henri disse que ter opiniões diferentes não significava exatamente que o outro esteja errado... Falou também que o respeitava e reconhecia seus anseios de jovem... Como não tinham a mesma idade não seria de estranhar que os valores que defendiam não fossem exatamente os mesmos.
(...)
Lambert pareceu gostar do que ouviu...
Sua voz denunciava o excesso de álcool que acumulava no sangue.
Ambos admitiram que nada do que tratavam ali fosse “urgente”. Então combinaram que deviam se encontrar para uma “conversa de verdade” em outra ocasião.
Despediram-se com esse compromisso... Henri estava visivelmente cansado e demonstrou sua intenção de retornar ao Hotel o quanto antes...
Lambert disse que continuaria a sua noite... Provavelmente procuraria amigos que deviam estar em algum bar.
(...)
Havia um pacote endereçado a Henri...
Levou-o ao quarto e quando abriu surpreendeu-se com o a publicação de Dubreuilh, o ensaio sobre o qual conversara com Lambert...
Mas não pôde saber quem o havia enviado porque a “página de guarda” estava em branco... Teria sido Mauvanes? Não seria a primeira vez que recebia um livro vindo de sua parte.
Isso o fez pensar no fim da amizade com Robert... Havia algum sentido naquilo? Os artigos de ambos convergiam e não se podia dizer que estavam em campos opostos.
Mas era fato que estavam brigados...
A amizade não seria restaurada...
Henri sabia que isso lhe faria muita falta... As alterações em sua vida não eram poucas e nem desconsideráveis... Os comunistas se tornaram seus inimigos ferrenhos; Paule estava louca; Lambert retirava-se de L’Espoir; “o mundo corria para a guerra”.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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