sexta-feira, 29 de maio de 2015

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Scriassine sugere uma comemoração no New Bar; comentários sobre Dubreuilh e seu novo livro; Julien e sua “interpretação ácida” a respeito da atividade desenvolvida por Lenoir

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_29.html antes de ler esta postagem:

O “Festival de Lenoir” tornou-se um grande circo... Os tipos das várias tendências, os prós e os contrários aos comunistas se manifestaram gritando e fazendo muito barulho.
Henri foi criticado e vaiado... Mas não tinha de quê reclamar, afinal havia topado sair com Lambert para aproveitar a noite... No final das contas foi isso mesmo o que ocorreu... Ele também deu boas gargalhadas, mas ao sair do evento sentenciou que “não foi nada engraçado”.
Scriassine chegou perto e disse que o tinha visto antes da apresentação... Quis encontrá-lo, mas ele simplesmente desapareceu...
Então Henri imaginou que a noite tinha lhe reservado este encontro desagradável... O tipo foi dizendo que precisavam seguir para o New Bar, onde poderiam se sentar e tomar alguma coisa... Scriassine falava como quem tem necessidade de comemorar algo, afinal ele devia ter se divertido muito durante o atrapalhado evento cultural dos comunistas.
Henri não conhecia o New Bar, mas Lambert explicou do que se tratava... O Bar Rouge que outrora frequentavam havia se tornado ambiente exclusivo dos comunistas... Os adversários se mudaram para o New Bar.
(...)
De fato, os dois ambientes eram vizinhos... Henri estacionou e logo que passaram pela porta, sentenciou que a “leiteira” era bem reles... Lambert defendeu o New Bar dizendo que ele era mais bem frequentado do que o bar dos vermelhos...
A “má frequência” não constituía nenhum impedimento para Henri... Os dois escolheram uma mesa no esfumaçado ambiente... Havia muitos jovens e ele não reconhecia nenhum daqueles rostos.
Lambert pediu dois uísques... Fez isso com uma delicadeza que parecia resultante de sua relação com o fino Volange... Henri notou que não tinha mais nenhum assunto que pudesse discutir, então disse que o livro de Dubreuilh devia ter sido lançado... O rapaz emendou que ele mesmo estava curioso e que pretendia ler. Justificou que conhecia parte dele já publicada na Viligance.
Também Henri gostaria de ler a produção textual do seu desafeto... Em outros tempos, Dubreuilh entregava-lhe pessoalmente as primeiras provas de seus escritos... Porém isso ficara para trás... Se quisesse obter o livro teria de comprá-lo e discuti-lo com qualquer pessoa, menos com o próprio Dubreuilh, que era com quem gostaria de falar a respeito.
Lambert comentou que havia encontrado o artigo que havia escrito sobre Dubreuilh, e que tinha sido barrado pelo próprio Henri. Como que a manifestar sua incompreensão pela censura sofrida, o rapaz disse que seu texto não estava mau... Henri respondeu que nunca dissera que se tratasse de um mau texto.
Lambert explicou que faria uma revisão e o entregaria para Volange, que pretendia publicá-lo na Beaux Jours. Henri sugeriu apenas que Lambert não fosse “excessivamente injusto”... Ele respondeu que seria objetivo e, com certa empolgação, esclareceu que havia escrito duas novelas... Uma delas estava para ser publicada na mesma revista.
Henri manifestou que gostaria de ler... Lambert disse que ele não apreciaria os textos.
(...)
Julien e Scriassine chegaram de braços dados... Este último foi pedindo uma garrafa de champanhe... Henri estranhou... Então Scriassine disse que iriam para outro ambiente... Julien resolveu que beberiam ali mesmo.
O rapaz ainda não estava bêbado, mas pôs-se a falar que não iriam para nenhum bar onde houvesse ciganos... Depois debochou da reunião dos comunistas e do trabalho de Lenoir... Fazendo graça, comentou que “só faltou um pouco de sangue”...
Scriassine disse que seria mais interessante se algum resultado pudesse ser percebido... Sugeriu que criassem uma “liga” para articular atos todas as vezes que “intelectuais traidores” se pronunciassem.
Julien brincou dizendo que podiam criar uma “liga para se opor a todas as ligas”. Henri voltou-se para Scriassine e perguntou-lhe se não percebia que sua ideia era um tanto fascista... Ele respondeu que tinha necessidade de vislumbrar algum futuro para o movimento de oposição aos comunistas.
Demonstrando que não comungava com nenhuma das iniciativas partidárias, Julien anunciou que deviam desprezar o futuro...
Scriassine insistiu e disse que era preciso fazer algo... Anunciou que escreveria um artigo sobre Lenoir, um “admirável caso de neurose política”... Henri disse que conhecia casos piores do que o de Lenoir... Julien se intrometeu garantindo que “somos todos neuróticos”, mas de fato ninguém escrevia em alexandrinos...
Henri deu risada e perguntou se teriam feito caras esquisitas se a peça do rapaz fosse boa, e sentenciou que os poemas eram bons... Para Lambert tudo se perdia, já que Lenoir havia “abdicado a sua liberdade”.
Henri questionou a esse respeito... Seria preciso saber o que significa a “liberdade do escritor”... Scriassine disse que aquilo não tinha mais nenhum significado.
Sempre a brincar com o raciocínio alheio, Julien falou que até estava pensando em voltar a escrever... Lambert aprovou e como que a falar indiretamente para Henri disse que há poucos escritores que não se veem “possuídos de uma missão”.
Julien respondeu em tom jocoso que sua missão seria “testemunhar que o escritor não está possuído de missão”.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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