Trarieux, Samazelle e Luc deixaram o prédio onde ficava L’Espoir... A reunião havia sido surpreendente porque Lambert acabou dando voto contrário à publicação dos textos de Volange...
Isso foi uma afronta ao pensamento de Trarieux e Samazelle, que esperavam abrir campanha aberta contra o PC... Mas também não se pode dizer que o rapaz estivesse plenamente seguro do que havia feito... Como sabemos, já fazia algum tempo que ele flertava com Volange e seus “ideais metafísicos”... Henri bem sabia que o rompimento era questão de tempo.
(...)
A sós com Henri, Lambert manifestou o desejo de conversar... Já fazia um
bom tempo que não se falavam... Henri quis adivinhar e disse que o rapaz
pensava que “a situação não era mais sustentável”.
Lambert concordou, era isso
mesmo... Disse ainda que o amigo tinha o direito de não gostar de De Gaulle...
Mas os textos de Volange não associavam o gaullismo à reação... Ao menos Henri
poderia manter “neutralidade bondosa”...
Henri desprezou o raciocínio e disse que “dissociar as
ideias é brinquedo de criança”... Depois perguntou se Lambert desejava revender
suas cotas de L’Espoir... O moço respondeu afirmativamente e admitiu que pudesse
trabalhar no Beaux Jours, de Volange.
Henri não lamentou... Apenas quis que o outro visse que ele tinha
razão... Volange falava de abstração, mas logo que viu oportunidade “mergulhou
na política”... Lambert respondeu que Henri tinha sua parcela de culpa na
situação, já que ele mesmo havia “semeado política por toda parte”... Assim,
até os que desejavam um mundo “menos politizado” tinham de fazer política.
Depois disso, Henri voltou a tratar das cotas e disse
que deveriam entrar em acordo para definir quem o substituiria... Lambert
esclareceu que não se importava e que, assim sendo, Henri e Luc podiam escolher
quem quisessem. Desejava apenas que a mudança ocorresse logo porque não suportaria
outras reuniões como a que haviam acabado de encerrar.
Henri pediu paciência e esclareceu que a mudança não seria de uma hora
para outra... Lambert parecia querer apressamento, tanto é que garantiu que
(como já não diziam a mesma linguagem) qualquer um que se interessasse seria “melhor
do que ele”.
Apesar de aparentar ressentimento, Lambert arrematou o seu
entendimento... Não bastavam as ideias conjuminarem, também havia que se levar
em consideração o indivíduo.
(...)
Lambert convidou Henri para o “Festival de Lenoir”.
Perron quis sugerir que o cinema seria programa melhor, mas o rapaz
insistiu que o evento era imperdível.
(...)
Aconteceria a leitura da
obra de Lenoir... Peça em “quatro atos e seis quadros”... Os periódicos
comunistas estavam anunciando que o autor “conciliava as exigências da pureza
da poesia com a preocupação de outorgar aos homens uma mensagem amplamente
humana”.
Julien era daqueles que
pretendiam sabotar o encontro. No entendimento de seu pessoal, depois que se
converteu ao partido, Lenoir havia se tornado um fanático totalmente submisso...
O que havia de “humano” nesse tipo de postura?
Pelo menos era um “programa
para a noite”... E é por isso que Henri topou o convite de Lambert... Os dois
se encontraram às oito e meia e seguiram de carro para o evento, que teria
lugar em ambiente totalmente adverso para Henri...
(...)
Ele levou em consideração que ultimamente sua
condição não era a de quem recebe apoios e solidariedade... Incriminavam-no
pela doença de Paule... Andava solitário... E o que dizer do telegrama de
Belhomme? Isso também o intrigava.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_29.html
Leia: Os
Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto