Kapuscinski apresenta alguns dados estatísticos referentes à população da África do Sul no final de 1960...
O país contava 15.841.128 habitantes. Desse total, 3.067.638 eram brancos... E mais da metade desses (58% - mais ou menos um milhão e oitocentas mil pessoas) eram africânderes... Eles representavam uns 12% de toda população... Apesar disso concentravam todos os elementos (língua, traços culturais e históricos, religião) que os caracterizavam como “nação”.
Afinal, o que diziam a respeito da conformidade social do país? Muitos defendiam que a África do Sul (a independência ocorreu em 1961 e a União da África do Sul, que existia desde 1910, passou a se chamar República da África do Sul) era uma “nação africana”; havia quem defendesse que ela se tratava de um “país de brancos”; outros entendiam sua sociedade como “multirracial”.
Apesar de se tratarem de uma evidente minoria, os africânderes queriam impor ao resto do mundo que a África do Sul era um país de brancos...
(...)
Os africânderes não admitiam a verdade histórica a respeito da estupenda
resistência africana aos intentos colonialistas no extremo sul do continente...
Por mais que agredissem os povos locais, e tomassem posse de vastas regiões,
jamais conseguiram superar seus contingentes.
Diferentemente da (contemporânea) colonização que
ocorria nos Estados Unidos*, no extremo sul da África os brancos europeus
encontraram muitas dificuldades e não conseguiram “limpar o terreno”...
* Kapuscinski
explica que na América do Norte as tribos nativas estavam em decadência e que,
além disso, travavam uma série de conflitos entre si; o violento avanço
colonial resultou em extermínio quase total daqueles povos.
As tribos bantu, por exemplo, eram muito bem organizadas, “unidas e
determinadas”. Estavam no “ápice de seu poderio”... Seus guerreiros
disciplinados e dotados de determinação ofereceram tenaz resistência à
colonização branca...
Africânderes e ingleses sofreram muitos reveses... Tiveram de travar
nove guerras contra os ksosa, outras quatro contra os matabela e mais três
contra os zulu (entre 1838 e 1906) para derrotá-las e conquistar territórios.
(...)
Os conflitos resultaram na morte de dezenas de milhares de pessoas (não
apenas da parte dos africanos)... Apesar da vitória militar, bem poucos
europeus se sentiam atraídos e dispostos a emigrar para a colônia... Em 1865 a
população branca no sul da África girava em torno de cento e oitenta mil
pessoas, e como (pelo menos até os anos 1880) ainda não havia grandes expectativas
de que as terras fossem profícuas esse número não mudou muito.
Kapuscinski explica também
que a América do Norte recebera muitos trabalhadores braçais europeus... Mas no
caso da colonização inglesa no sul da África não foi bem isso o que
aconteceu... Os ingleses tinham mentalidade aristocrática e desprezavam o
trabalho braçal na possessão... Também por isso a quantidade de brancos não
cresceu tanto na África do Sul.
(...)
Na sequência, Kapuscinski
apresenta uma série de eventos históricos desde o começo do século XVII, época
em que Jan Van Riebeeck (representante da Companhia das Índias Orientais) deu
início ao povoado holandês no Cabo...
A Holanda era uma das
maiores potências marítimas de então... Seus navios que partiam para as Índias
Orientais necessitavam mesmo do porto e de abrigo seguro aos tripulantes...
Além dos holandeses, o povoado recebeu huguenotes que fugiam da França e
comerciantes alemães do Báltico.
A língua africâner desenvolveu-se como uma
mescla “dessas línguas com o inglês e o malaio”.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto