sexta-feira, 1 de abril de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – Awolowo e o Action Group Party participaram ativamente das negociações pela independência da Nigéria; a primeira disputa pelo cargo de premier do país; desentendimentos com Akintola; intervenção do governo Balewa e prisão de Awolowo; cresce o prestígio político, nasce o mito

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/03/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_31.html antes de ler esta postagem:

Awolowo alimentava o desejo de se tornar o dirigente de todo o país. Essa situação se tornava ainda mais complexa na medida em que a Constituição Nigeriana daquele tempo (outorgada pelos ingleses) definia o “direito” do Norte dominar o Sul... Em outras palavras, os hausas, que habitavam a região menos desenvolvida, teriam o direito de governar a parte do país que tinha “economia mais dinâmica”...
Nos dizeres de Kapuscinski, tratava-se do domínio do “norte feudal” sobre o “sul burguês”.
(...)
O Action Group se apresentou como alternativa no “arranjo possível” definido pelos ingleses. De fato, tratava-se de um partido dinâmico que recebia grandes somas de dinheiro do próprio Awalowo.
Em 1959, às vésperas da independência do país (que Awalowo e demais membros do Action Group ajudaram a conquistar), ocorreram eleições regionais. E também para definir o Primeiro ministro da Nigéria... Awolowo renunciou ao cargo que exercia no Leste para concorrer ao cargo maior.
Se vencesse, concretizaria o seu sonho político...
Mas ficou claro que nem hausas nem ibos votariam num ioruba.
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Derrotado no pleito, Awolowo não podia reassumir o posto que ocupara anteriormente, já que o seu substituto, o chefe Samuel Ladoke Akintola não admitiu deixar o posto... Restou ao líder ioruba liderar a oposição ao governo sem nunca admitir um governo comandado por Akintola. Sabe-se também que ele abandonou uma postura inicialmente pró-ocidente para defender a condição de “neutralidade” da Nigéria.
Akintola e seus seguidores obtiveram o apoio do governo federal comandado por Balewa Tafawa, que declarou “estado de emergência” na região ioruba... Em 1962 ocorreu a prisão de Awolowo e de partidários (acusados de traição e desordem por conspiração com os ganenses comandados por Kwame Nkrumah, que os auxiliariam a conquistar o poder também nas terras vizinhas).
Os hausas parecem ter aproveitado a crise para submeter os adversários iorubas... Conseguiram condenar Awolowo a 15 anos de cárcere... A sentença foi reduzida para 10 anos e o condenado foi removido para a prisão de Calabar, na região de fronteira com Camarões.
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Por tudo o que já foi registrado, podemos concluir que a prisão de Awolowo resultou em trauma dos grandes para a gente ioruba... Houve ruptura entre lideranças (sobre essa questão da divisão política ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/03/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_23.html)... Akintola não abriu mão do poder... Balewa era o dirigente federal que entendia que os partidários de Awolowo, por suas tendências separatistas, embora tendo se saído vencedores das eleições, não podiam assumir o governo.
Essa divisão tornou-se ainda mais acirrada por conta da guerra civil... No cenário externo os iorubas tornaram-se enfraquecidos e sem a menor possibilidade de enfrentar politicamente os hausas e os ibos...
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A prisão só fez aumentar o carisma de Awolowo...
Para seus seguidores, a prisão a que estava submetido equivalia a um atentado para destruí-lo moralmente...
Aos poucos, a ideia de que “queriam impedir que os iorubas se unissem em torno do espírito de Oduduwa” ganhou força.
Pode-se dizer que a prisão “aumentou o prestígio político” de Awolowo... E quanto mais se aprofundava a crise no país, mais se falava sobre ele.
Não foi por acaso que muitos textos em honra à divindade de Awolowo foram produzidos (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/03/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_29.html)...
Os pensamentos dos iorubas “voltaram-se para o chefe”... Imaginá-lo encarcerado e passando por tortura enchia o coração das pessoas de amargura.
Não foram poucos os que, como Aintunde Lalude, escreveram a esse respeito...
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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