Conforme ficou evidenciado em postagens anteriores, em pouco tempo, Awolowo se transformou no mito enaltecido pela maioria dos iorubas.
Não demorou e aquele povo passou a crer que também seria preenchido pelas qualidades mais elevadas de seu chefe.
O sentimento que passou a tomar conta do movimento era o de que ele precisava ser libertado... Depois de tantos anos, certamente ele traria soluções para os problemas mais profundos de sua gente.
Os iorubas o aguardavam na esperança de logo terem acesso ao seu “programa”, que seria seguido como a um Evangelho.
(...)
Kapuscinski encerra
suas considerações sobre a Nigéria assim...
Ele
deixou o país envolvido na empolgação provocada pela libertação de Awolowo...
Em terras iorubanas ninguém podia circular sem a fotografia do grande líder,
pois corria o risco de ser linchado ou levar uma facada.
O jornalista teve
oportunidade de presenciar eventos marcados pela aparição de Awolowo...
Comparou a sua fisionomia ao do rosto exposto nas fotografias e sentenciou que
se tratava mesmo de um tipo tranquilo, semelhante a um professor com seus
óculos de grossas lentes...
Um tipo que falava
pouco... Mas que pensava muito.
(...)
É bom que se saiba que Samuel Ladoke Akintola era o vice-líder do Action
Group quando Awolowo se retirou do posto de primeiro-ministro da região oeste
da Nigéria (iorubana). O desentendimento entre os dois provocou a retirada de
Akintola e seus liderados do Action Group.
É desse rompimento que
surge o NNDP (Nigerian National Democratic Party), que permaneceu no governo
até 1966... O governo federal (Balewa) anulou a Constituição regional para
legitimar a posse de Akintola (derrotado nas pelos partidários de Awolowo).
Enquanto esteve detido,
Awolowo escreveu a respeito da situação política do país, tendo defendido o
federalismo em seu “Reflexões sobre a Constituição da Nigéria”. Em janeiro de
1966, oficiais ibos derrubaram o governo Balewa (o premier e Akintola foram
assassinados; por ocasião desse golpe também ocorreram perseguições e
assassinatos de oficiais de outras etnias)... Esse acontecimento provocou a
suspensão da Constituição do país.
Em julho do mesmo ano
ocorreu outro golpe militar (este levou o tenente-coronel Yakubu Gowon ao poder e é tratado por Kapuscinski em seu “A Guerra do
Futebol”)...
Gowon concedeu a liberdade para Awolowo e, mais que isso, convidou-o
para compor o governo militar na condição de vice-presidente do Conselho
Executivo Federal.
Em “A República Popular”
(1968), Awolowo defendeu que a Constituição desse formato socialista ao país.
Isso seria condição essencial para o desenvolvimento e bem estar da sociedade.
Para ele, defensor de um regime civil, o governo militar tinha muito a
contribuir naquele momento... No entanto, deixou claro que a divisão política
(12 estados) não levava em consideração que, por causa da “demarcação”, etnias beligerantes
teriam de conviver. Novas crises políticas deviam ser aguardadas.
(...)
O tenente-coronel Odumegwu Ojukwu (oficial ibo) havia
sido indicado para governar a região leste do país por ocasião do governo que
se estabeleceu durante o primeiro semestre de 1966... No começo do ano seguinte
ele proclamou a emancipação do Estado de Biafra...
Durante a “guerra Nigéria-Biafra” (1967-1970; sabe-se que Inglaterra e
União Soviética forneceram armas ao governo Gowon; enquanto a França as
fornecia aos rebeldes) Awolowo prosseguiu no governo também como comissário de
finanças...
Depois do sanguinolento conflito, fez severas críticas
aos gastos direcionados aos militares em vez de incentivarem o desenvolvimento
do país.
(...)
Embora não sejam elucidadas por Kapuscinski, as "contribuições sociais" de
Awolowo foram muitas enquanto permaneceu no governo...
Em 1971 ele rompeu com o regime.
Em julho de 1975, um golpe (mais um) impôs o fim do governo Gowon (transferiu-se
para o Reino Unido), acusado de “não combater a corrupção”. Anos mais tarde,
prosseguiu sua vida política devotada a servir o continente.
Pouco mais de meio ano depois (fevereiro de 1976), novas agitações
depuseram Murtala Muhammed (assassinado).
Awolowo concorreu às
eleições presidenciais (1979; 1983) e foi derrotado por Shehu Shagari, que
também sofreu golpe militar (o general Muhammad Buhari foi levado ao poder) no
último dia de 1983.
Vale conferir esses golpes
e outros que a Nigéria sofreu...
(...)
Awolowo morreu no dia 9 de maio de 1987 em
Ikenne, o mesmo lugarejo onde nasceu em 1909.
Leia: A
Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto