quinta-feira, 26 de maio de 2016

“A Guerra do Futebol”, de Ryszard Kapuscinski – o incrível caso do diretor de presídio que decidiu comemorar o gol da seleção mexicana com tiros de revólver; Luis Suarez e Kapuscinski seguiram para Honduras; Tegucigalpa bombardeada; reações do governo hondurenho

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/05/a-guerra-do-futebol-de-ryszard_24.html antes de ler esta postagem:

Além da nota a respeito da manchete de “Jornal dos Esportes” (em texto e gravuras que destacam a “intervenção” de Jesus Cristo para salvar a defesa da seleção brasileira de futebol na disputa contra os ingleses em jogo da Copa de 1970), “A Guerra do Futebol” cita outros episódios que exemplificam extravagantes posturas de torcedores latino-americanos.
Kapuscinski destaca o episódio, também relacionado à Copa no México, em que a seleção da casa venceu a da Bélgica por 1x0... A felicidade tomou conta dos mexicanos de tal forma que passaram a extravasar sua alegria em atitudes temerárias. Esse foi o caso de Augusto Mariaga, que por aquele tempo era diretor do presídio de Chilpancingo... O homem acompanhava a partida pelo rádio e descontrolou-se completamente ao ouvir a narração do gol que levou a seleção à vitória... O tipo correu feito louco de um lado para outro dando tiros de revólver para o alto. Fez uso da arma como se estivesse acionando fogos de artifício... Não bastasse essa excrecência, passou a abrir várias celas e a liberar presos, “criminosos de alta periculosidade”.
O caso teve desfecho curioso, pois o tribunal absolveu o diretor do presídio destacando nos registros do processo que “ele agiu sob o efeito de elevados sentimentos patrióticos”.
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Kapuscinski e o companheiro redator do semanário “Siempre”, Luis Suarez, decidiram partir para Tegucigalpa... Consideraram que a guerra estava para começar e pretendiam cobrir os fatos in loco.
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Mal chegaram à capital hondurenha, viram-se em meio à agitação... A noite se avizinhava quando ouviram o ronco de um avião que sobrevoou a cidade e despejou uma potente bomba. O estrondo assustou a todos os que circulavam pelas ruas do centro... As colinas ecoaram e muitos insistiam que mais de um artefato havia sido lançado.
Na sequência, o pânico... Muitos motoristas abandonaram seus veículos pelas ruas, comerciantes fecharam estabelecimentos e a correria em busca de proteção foi geral... Notava-se o desespero nas fisionomias das pessoas em busca crianças e parentes que se perderam no tumulto.
Tegucigalpa tornou-se escura e silenciosa... Ao que tudo indica o apagão foi uma orientação das autoridades.
Kapuscinski dirigiu-se apressadamente ao hotel para redigir um telegrama à PAP. Seu prédio também estava às escuras, então teve certa dificuldade para alcançar o quarto.
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O rádio de pilha transmitia um comunicado do governo... Em síntese afirmava-se que o país fora atacado por El Salvador, e isso ocorria “em todas as frentes”... O polonês sabia que era o único correspondente europeu no país e seu senso dizia-lhe que devia agir imediatamente. Acendeu a luz do quarto e pôs-se a datilografar.
O texto que começou a produzir evidenciava à PAP que Tegucigalpa havia sofrido ataque da aviação salvadorenha; outras três cidades também tinham sido bombardeadas ao mesmo tempo em que as tropas inimigas ultrapassavam a fronteira e se instalavam no interior; Honduras estava reagindo atacando “alvos industriais e estratégicos de El Salvador”.
Antes de terminar sua redação, Kapuscinski ouviu gritarem da rua que a luz devia ser apagada. Foi com o auxílio de fósforos que finalizou o seu texto... Na parte final afirmava que o rádio informara que Honduras partira para o revide causando consideráveis perdas aos agressores; o governo estava convocando o país para defender a pátria e apelava à ONU para que condenasse as agressões que haviam sido iniciadas por El Salvador.
Leia: A Guerra do Futebol. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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