segunda-feira, 25 de julho de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – um passeio à feira de Parker; entretenimento para a família e fotografia de recordação; estrangeira fora de sintonia; dramas das grandes e pequenas cidades ilustrados pelos personagens de cera; pretenso “recorte” sobre os horrores da Segunda Guerra

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/07/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_25.html antes de ler esta postagem:

Foi Dorothy quem acertou o passeio à feira de Parker num domingo...
Lewis e Anne foram levados por Bert, e coube à própria Dorothy levar Virgínia, Willie e Evelyne em seu carro já bem antigo... Era certo que Lewis não tinha a menor intensão de tomar parte no programa, mas não encontrou ocasião e firmeza para recusá-lo... A preocupação de Anne era por não acreditar que conseguisse manter aparência e papel de “mulher feliz” diante dos outros por tempo excessivo.
(...)
Ao chegarem, Lewis manifestou desagrado em relação à grande quantidade de visitantes e por causa da poeira... Dorothy, dando a entender que o conhecia bem, chamou-lhe a atenção para que não principiasse a sua habitual reclamação... E emendou que sabia de seus ataques de mau humor e desejos de “apagar o sol”.
A moça pôs-se a percorrer as barracas animadamente e a sugerir que todos se divertissem com os vários jogos. Anne se esforçava para apresentar-se alegre.
Não deve ter sido nada fácil manter-se sorrindo e esboçando interesse por aquele tipo de entretenimento (tiro ao alvo; derrubar latas empilhadas; pilotar miniaturas de carros e aviõezinhos...).
Lewis mostrou-se impressionado com sua interação... Dorothy percebeu e puxou-a dando-lhe razão, pois considerava válida a postura de Anne... Era melhor procurar se divertir do que “ostentar ares de enfado”.
Dorothy ajeitou-lhe o vestido e pediu que ela se deixasse fotografar ao lado de Lewis... Virgínia garantiu que gostariam de uma fotografia da amiga francesa, e assim reforçou a ideia.
Brogan deu-lhe o braço e sugeriu que a iniciativa de “imortalizá-la” era válida.
Os dois se posicionaram junto a um dos painéis que o fotógrafo local utilizava para produzir lembrancinhas aos visitantes da feira... Escolheram a gravura de um aeroplano.
Anne se viu em situação delicada... Não conseguia sorrir espontaneamente... Era simples assim... Seus vestidos e arranjos de cabelo despertavam elogios das moças que mal conhecia e que queriam uma recordação sua. Nada daquilo despertava a atenção ou o interesse dele.
(...)
Era bem provável que Dorothy estivesse entendendo que suas chances em relação a Lewis fossem diminutas diante de Anne... Mas talvez também percebesse que esta “perdia terreno”.
Ela insistiu que ele tinha de fazer companhia para Evelyne, que devia se sentar à sombra, pois o sol a incomodava... Ele podia fazer esse favor, pois a outra não conhecia Bert e tampouco tolerava Willie. Depois poderia oferecer-lhe algo para beber.
Ela foi definindo tarefas que Lewis não estava nem um pouco a fim de realizar. Então foi categórico ao afirmar que se recusava a fazer companhia a Evelyne... Pelo visto, a intenção de Dorothy era prosseguir ao lado de Anne em visita ao salão onde ficavam expostas modelos de cera.
Mas, dando-se por vencida, admitiu ficar junto à Evelyne... Anne deu a entender que podia substituí-la, mas ela não aceitou.
(...)
No caminho para o salão, Anne disse a Lewis que ele devia ser mais gentil com a amiga... Ele respondeu que não tolerava Evelyne, e que a ideia de convidá-la tinha sido da própria Dorothy.
A instalação dos “personagens de cera” era diversificada... A um canto viam-se assassinos diante de suas vítimas no congelado instante de sua morte... Uma criança mexicana embalando um recém-nascido... Do outro lado via-se Goering agonizando... Soldados com uniformes alemães pendiam de forcas... Mais além, cadáveres esqueléticos de cera foram colocados para além de uma cerca de arame...
A “parte didática” da exposição colocava Dachau e outros campos nazistas de concentração no “fundo da História”.
(...)
Ao retirar-se da sala, Anne deu com o forte sol e o calor que exigia trajes leves e floridos... Mulheres e seus ombros nus, homens e suas camisas alegres, eram vistos por toda parte... Muito sorvete e cachorro quente...
Chocante... Ela sentiu como se a Europa tivesse “ido para os confins do espaço”, já que ficara para trás, no ambiente que tinham acabado de deixar.
Em meio ao povaréu, Anne se deu conta de que até podia ter se esquecido de seu mundo e de sua língua! Paris estava distante, no espaço e também de sua mente.
(...)
Dorothy teve dificuldade de se impor como líder da excursão. Protestou contra o egoísmo dos homens que decidiram que o passeio estava terminado... Em vão anunciou que às sete da noite projetariam raros filmes mudos que podiam interessar à Anne...
Falou também da expectativa sobre a apresentação de um ilusionista sensacional. Mas isso também não convenceu ninguém.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas