De todos os que estavam na sala da casa de Gamaliel, apenas Gade defendia o Rabi da Galileia feito prisioneiro.
O próprio anfitrião sustentava que, além de cultivar hábitos inaceitáveis, Ele desprezava a lei e colocava-se acima de Deus.
Gade deu a entender que sabia que o Rabi era milagreiro.
(...)
Manassés desdenhou ao dizer que o essênio podia sossegar, pois muitos
outros eram conhecidos
por seus feitos milagrosos... Citou certos Simão de
Samaria, Apolônio e Gabieno. Por fim perguntou se os feitos milagrosos do Rabi
da Galileia podiam ser comparados aos “das filhas do grão-sacerdote Ânio” ou
aos do “sábio rabi Quequiná”.Osânias não deixou por menos. Ele entendia que Gade era tipo dos mais simples... Perguntou-lhe o que ele e os essênios do oásis de Engada aprendiam... O próprio velho respondeu que “aqueles ingênuos” só buscavam milagres... Mas acrescentou que até mesmo os pagãos podiam fazer milagres. Aconselhou-o a visitar Alexandria... Na área onde se localizavam as fábricas de papiros, ele poderia conferir magos fazendo milagres ao preço de uma dracma.
As provocações não
pararam por aí... Osânias questionou se milagres são provas de divindade... Se
era assim, “o peixe Oanes (divindade da mitologia babilônica; ‘metade homem,
metade peixe’), que tem barbatanas de nácar e prega nas margens do Eufrates”
nas noites de lua cheia, também seria divino.
(...)
Gade
não se exaltou. Pelo contrário, sorriu com doçura... Caminhou vagarosamente
pela sala e parecia apiedar-se dos que o afrontavam. Disse que todos ali apenas
“zumbiam”... Insistiam em falar do que não sabiam. Mas jamais ouviram o Rabi da
Galileia!
Eles precisavam saber
que quando o Rabi falava “era como se corresse uma fonte de leite em terra de
fome e secura”, a luz tornava-se mais intensa e o lago de Tiberíade tornava-se
mais manso... Isso permitia que todos pudessem ouvi-lo melhor. Até mesmo as
crianças pareciam amadurecer na fé quando o escutavam! De sua boca saíam doces
palavras sobre caridade, nobreza, santidade, fraternidade, justiça,
misericórdia e amor...
Com a face
resplandecente, o rapaz disse que todas as nações do mundo mereciam ouvi-las.
(...)
Via-se a empolgação
do essênio que dirigia seu olhar às alturas como se pudesse visualizar a
mensagem de seu líder espiritual. No entanto Gamaliel passou a questioná-lo
expressando-se com autoridade.
O doutor da lei
perguntou se havia originalidade naquelas ideias... Quis saber se Gade pensava
que o seu Rabi as havia retirado do coração... Afinal a doutrina que todos ali professavam
sempre esteve repleta daqueles princípios!
Gamaliel acrescentou que se o essênio quisesse ouvir mais a respeito de
amor, caridade ou igualdade, poderia recorrer ao livro de certo Jesus, filho de
Sidrá... E que também Hilel e Esquemaia haviam dito e feito pregações com os
mesmos temas!
E disse mais... Disparou que até certos livros pagãos continham
ensinamentos justos... E todos deviam saber que aqueles textos eram “como o
lodo ao pé da água pura de Siloé!” quando comparados à lei que seguiam os
judeus...
O anfitrião reclamou que o rapaz devia saber de
tudo aquilo, pois era essênio e os de seu grupo também possuíam preceitos!!!
Até os “rabis de Babilônia” e Alexandria ensinavam “leis puras de justiça e de
igualdade!”
Por
fim, Gamaliel sustentou que também Iocanã, amigo dos essênios, chamado Batista
e que terminou seus dias miseravelmente num cárcere em Maqueros, teve uma
existência marcada por ensinamentos semelhantes.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/12/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_14.html
Leia: A
Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto